-Aquela guria é louca, descompensada! - disse Eloísa. - Eu já te contei o que ela fez?
- Não, o que ela fez? - perguntei.
A esta altura do campeonato, temos vários tipos de casais. Os que estão juntos há pouco tempo e têm, mesmo nos seus vinte e poucos anos, filhos. Os que estão juntos há anos e beiram à paranóia para não ter filhos antes dos trinta. E os que nunca nem estiveram, mas quase geraram crianças.
Neste último caso, grande parte das mulheres finge que está grávida ou faz alarde da suspeita para tentar salvar o relacionamento. O incrível disso tudo é: todo ano aparece um novo caso desses, sempre se repetindo.
Mas na verdade, essa história é sobre minha amiga Eloísa, estudante de 21 anos, que estava ficando com um boy magia quando, de repente, surgiu a notícia de que a ex-namorada dele poderia estar grávida.
Como qualquer mulher sã, a ex, que chamaremos de Marta, 20 e poucos anos, encontrou, sabe-se lá como, o número do celular de Eloísa. E lhe mandou uma mensagem:
“Não se preocupa que se eu estiver grávida, eu não vou ter o bebê, não. Eu vou abortar, não vou ser mãe solteira de jeito nenhum”.
-Ah, Eloísa, mas você também arranja cada um... - comentou Anita, que ria da situação.
Anita, na opinião de terceiros, seria a mais rebelde do grupo. Tinha cabelos negros cacheados e metade da cabeça raspada. Em um dos braços, uma tatuagem de uma perna de mulher com salto alto saindo de uma cauda de peixe. No outro, uma pin-up rechonchuda com tatuagens vermelhas no corpo todo: uma homenagem à sua mãe. No entanto, de nós três, seria o que as comadres diriam ser uma “perfeita moça de família”. Se as comadres fossem cegas, claro.
Eloísa, simpática, conhecia todas as pessoas em qualquer lugar que ia. Era aquela menina difícil de não se gostar. E os que não gostava, secretamente admiravam ou invejavam.
-E sabe o que ela disse pra ele?! “Alan, como você quer que eu tenha esse filho solteira?! se eu estiver grávida, eu vou abortar, porque não vou ser mãe solteira não!”. Esperando que ele pedisse ela em casamento. Ele foi lá conversar com ela sobre a situação, mas parece que é isso aí. Ela fez o teste de gravidez, mas deu negativo. Ela mandou uma foto pra ele do teste...
Sabia o posicionamento de Eloísa em relação ao aborto: totalmente contra. Lutava com a minha opinião, mas no fundo tinha certeza: era a favor. A não ser que a grávida fosse eu. No fundo acho que não teria coragem.
- E depois de ter confirmado que não estava grávida, ela mandou a fato de uma criança pra ele e escreveu embaixo “era pra ter sido assim”. Você acredita nisso?!
UM CAPUCCINO EXTRA GRANDE, POR FAVOR
Aqueles casais que conseguiram superar mais de dois anos sem engravidar ninguém são os que podem se dar ao luxo de realmente criar laços entre si, antes de dar tudo o que se tem para um futuro filho.
Têm todo o tipo de luxo dos que podem perder horas e horas preocupando-se com o “nós”: preocupam-se com detalhes bobos, decifram as manias um do outro e passam tardes deitados olhando para o teto imaginando como seria o futuro. Assim são Edmundo, psicólogo de 30 anos que sempre cai nas graças do povo, e Natasha, estudante de medicina, 21 anos, estressada e amplamente admirada.
-Eu aprendi já: sempre que eu pergunto se ela quer uma coisa e ela diz não, eu já peço um extra.- disse Edmundo, olhando o cardápio e rindo da piada interna que tinha feito.
-Ai, amor! E você disse que não tinha ficado bravo aquele dia! - lamuriou Natasha
-Mas eu não fiquei bravo, não! - disse entre gargalhadas. Gostava de implicar com Natasha, sua bochechas ficavam rosadas com a irritação momentânea, deixando-a ainda mais bonita.
-É que a gente estava no cinema e eu não queria refrigerante. -explicou ela- E ele perguntou se eu queria. Eu gosto de refrigerante, mas não estava com vontade de tomar um aquela hora.
-Ai eu pedi uma água pra ela e uma soda pra mim, pra ela não ficar com sede durante o filme.
-E eu pensei “hum, soda é legal”.
-E simplesmente tomo a soda quase toda. Isso porque tinha dito que não queria. Eu até pedi uma água pra ela.
- É porque eu achei que você ia pedir coca ou guaraná, e eu não queria tomar nenhum desses dois...
-Já sabe o que vão querer? - perguntou um dos atendentes do Rei do Mate, onde tinhamos sentado para colocar o papo rapidamente em dia, antes de eu voltar para minha aula de direito constitucional. Com expressão de impaciente e irritado, o atendente ficou batendo a ponta do lápis no bloquinho de pedidos, olhando esperando enquanto Edmundo se decidia por uma bebida.
-Ahn...dois expressos.
-Não, eu vou querer um capuccino. - interferi. Se eu tomasse um café expresso às oito da noite, provavelmente teria uma crise estomacal.
-Capuccino? Hum...- perguntou Edmundo, com a expressão meio surpresa por eu ter rejeitado sua sugestão, mas percebendo que talvez capuccino fosse uma opção mais agradável.
-O expresso e o capuccino vão ser pequenos ou grande?
-Amor, você não vai querer nada mesmo? - Edmundo perguntou para Natasha.
-Não, não.
-Então um expresso pequeno e um capuccino extra grande.
Quando estava para objetar novamento o tamanho da minha bebida, Edmundo se adiantou:
-Relaxa, ela vai tomar pelo menos metade do seu capuccino.
-Ei!